Convivemos diariamente com ruídos diversos: o carro que passa, a moto e seus ocupantes aos gritos, uma buzina, conversas dentro dos ônibus coletivos, pessoas que encontramos pelas ruas, crianças e adolescentes nas escolas, o canto dos pássaros, os latidos dos cães, a vizinha que grita com o filho, o marido que briga com a família, o avião que sobrevoa as nossas casas, a televisão ligada, a música no carro e tantos outros barulhos que, por vezes, nem mais os captamos. Os ouvidos já estão tão acostumados que não os percebem.
Gosto do barulho, gosto da dinâmica do vai e vem das pessoas, das coisas. Gosto dos ruídos indecifráveis, aqueles aos quais os meus ouvidos já se acostumaram. Gosto da tagarelice das crianças na escola, da falação incontida.
No entanto, há momentos em minha vida em que nenhuma companhia é melhor que a solidão. A solidão silenciosa, sem murmúrios, algazarras, sem falas. A solidão calada, contida na relação cara a cara comigo mesma. Gosto de curtir-me, de estar em paz comigo e apenas comigo. Nesses momentos existe uma força muito estranha, gostosa e que faz o meu corpo revigorar, as minhas lágrimas soltarem e se espalharem pelo meu rosto, tirando de mim tudo o que é ruim, o que machuca e faz doer.
A solidão, essa solidão a qual me refiro, tem o poder de me transformar, de fazer com que o meu coração acelere, de fazer com que eu seja apenas eu, somente eu. As lembranças que surgem nesse encontro servem apenas para que, a partir dali, sejam guardadas e, quando possível, afastadas e esquecidas. Os sonhos irrealizáveis são rebatidos, a razão torna-se a mestra das decisões e, a alma, antes tão pesada, torna-se leve, quase imperceptível. E é a alma quem chega até o meu coração, lubrifica as suas ramificações e me traz de volta à vida.
Pode, aos olhos de muitos, parecer loucura, mas não é. Tenho a nítida sensação e a certeza de que, a partir dali, estou pronta para novas batalhas. Batalhas que procuro sempre vencer. Afinal, viver não é nada fácil e é preciso muita vontade. Se o corpo não estiver bem e a alma encantada, não serei mais eu e sim, retalhos do meu ser. E somente em solidão sou capaz de perceber o que há de bom em mim, sou capaz de ganhar forças e seguir.
Ah! E estar em solidão, nem sempre quer dizer tristeza!
Ah! E estar em solidão, nem sempre quer dizer tristeza!
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