A depressão fez mais uma vítima nesta semana. De acordo com a polícia da Califórnia, tudo indica que o ator Robin Williams tenha se suicidado por asfixia, na última segunda-feira, aos 63 anos. O vencedor do Oscar por “Gênio Indomável” e artista consagrado por filmes como “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Patch Adams - O Amor é Contagioso” lutava contra a depressão e o vício em cocaína e álcool.
A notícia pegou o mundo inteiro de surpresa e levantou a importante questão que gira em torno dessa doença. Se não for tratada a tempo, ela pode ter um desfecho tão triste quanto o de Williams ou do humorista Fausto Fanti, que, no final de julho, também tirou a própria vida, possivelmente, em decorrência do sofrimento psíquico.
Na opinião do médico Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, políticas públicas voltadas para esse problema e um tratamento da mídia sem tabus poderiam ajudar a evitar consequências graves.
“Ao contrário do que se pensa, as pessoas não vão se matar se a mídia falar mais sobre o suicídio. O importante é a orientação sobre isso. Deve-se falar disso para prevenir”, afirma. Todos os anos, a ABP realiza uma caminhada no dia 10 de setembro para lembrar o “dia mundial da prevenção ao suicídio” e, nos locais em que acontece esse tipo de ação, segundo ele, a incidência tem parecido menor.
O psiquiatra diz que, em cada 100 pessoas com depressão grave, 15 cometem suicídio. O número é preocupante, mas pode ser revertido se preconceitos forem combatidos e informações forem divulgadas.
A seguir, você confere fatos que todo mundo deveria saber para lidar melhor com o problema.
Depressão é uma doença, não “frescura”
Uma das principais dificuldades enfrentadas por quem sofre de depressão é entender e fazer com que os outros entendam que ela não é “frescura”, mas uma doença, como hipertensão ou diabetes.
Isso significa que precisa ser tratada por um psiquiatra, capaz de orientar e, se necessário, medicar adequadamente o paciente. A psicoterapia em conjunto pode ser muito útil, mas o tratamento médico é essencial.
Preconceito só atrapalha a cura
“Psiquiatra é médico de louco e eu não estou doido”. Esta frase, lembrada por Silva, resume boa parte do preconceito que ainda existe em torno da depressão, dos transtornos mentais e até mesmo dessa especialidade da medicina. Por vergonha ou medo de que conhecidos fiquem sabendo, pacientes evitam procurar ajuda ou perdem um apoio importante dos entes queridos.
Com um amigo deprimido, não adianta só conversar
Outro efeito nocivo do tabu é a desconsideração da gravidade do quadro. Muita gente acredita, por exemplo, que basta conversar com a pessoa deprimida para resolver o problema. Nada mais ilusório.
É claro que o apoio, o consolo e a compreensão são estritamente necessários, mas frases como “Calma, vai passar” ou “Deixa isso para lá” não acrescentam e, dependendo da situação, podem ser prejudiciais. Se o paciente estiver com ideias suicidas, por exemplo, a melhor forma de ajudar é incentivá-lo a ir ao médico.
E falar coisas como “Poxa, mas você não está nem tentando ficar feliz” ou “Você poderia se esforçar mais para melhorar” é, na opinião do médico, maldade. “Isso é a mesma coisa que, se você usa óculos, alguém pedir para que tire as lentes e ordenar que enxergue tudo sem elas”, afirma o psiquiatra.
Os sintomas podem ser físicos e psíquicos
A tristeza e o desânimo podem ser sintomas da depressão, mas não são os únicos. De acordo com Antônio Geraldo da Silva, é possível haver sinais físicos, como perda ou ganho de peso, dores inexplicáveis no corpo e insônia ou sonolência em excesso.
Entre os sintomas psíquicos estão: desânimo intenso, cansaço, apatia, falta de vontade de fazer suas tarefas, falta de prazer, de alegria, choro fácil, temperamento explosivo, irritabilidade.
O diagnóstico, claro, precisa ser feito pelo médico, já que a chamada “síndrome depressiva” tem sintomas que podem ser confundidos com outras enfermidades, como o hipotireoidismo ou o hipertireoidismo.
Qualquer pessoa pode ter depressão
Assim como grande parte das outras doenças, a depressão não “escolhe” alvos específicos. Segundo o psiquiatra, homens e mulheres, crianças, adultos e idosos podem ser acometidos pelo mal.
Esse fato vai de encontro com outro preconceito muito comum: o que diz que “pessoas bem-sucedidas ou ricas não deveriam ficar deprimidas”. Por esse raciocínio, quem não tem motivos aparentes para sofrer deveria ser imune.
A realidade, no entanto, é mais complexa. Há pessoas que têm mais propensão à doença devido à genética. Há outras que podem sofrer com o problema devido a suas condições de vida e o ambiente em que convivem.
De acordo com o médico, fatores como o uso de álcool e drogas, uma rotina muito estressante e noites sem dormir podem aumentar a incidência da enfermidade.
Depressão é uma das principais causas de afastamento do trabalho
Apesar de todo estigma existente em torno da depressão, ela é uma das principais doenças que acometem a humanidade atualmente. Dados de 2013 divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que mais de 350 milhões de pessoas no planeta têm depressão – o que representa 5% da população mundial.
De acordo com estudo publicado na revista científica PLOS Medicine, no ano passado, ela é a segunda maior causa de invalidez, no mundo, ficando atrás apenas das dores nas costas.
Antônio Geraldo da Silva estima que 20% das pessoas já tiveram, têm ou ainda terão a doença ao longo da vida. Por isso, ele ressalta a importância de falar mais sobre o tema, dentro das empresas, na família, nos governos e na sociedade como um todo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário