O dia 07 de abril de 2011 ficou marcado na história brasileira como o dia do “Massacre em Realengo”. Por volta das 8h30min da manha, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, se dirigiu para a Escola Tasso da Silveira, no bairro de Realengo no Rio de janeiro, onde entrou dizendo ser convidado para uma palestra. Subiu três andares e entrou numa sala de aula com 40 alunos, que assistiam à aula de português. Sem dizer uma palavra, disparou 50 tiros contra os estudantes, deixando um saldo de 12 crianças mortas (dois meninos e dez meninas, com idades entre 12 e 14 anos), se matando logo a seguir.
Quem era Wellington de Menezes? Assista ao vídeo logo abaixo e conheça a historia do atirador:
¨¨
¨¨
Dias antes, Wellington havia gravado um vídeo falando de seus motivos para tal atitude. Dizia ele que se vingaria em nome “daqueles que são humilhados, agredidos e desrespeitados, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes”. Em carta ele disse: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo, e todos os que estavam por perto debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com meus sentimentos”. Pelo enorme tamanho da tragédia, pareceu-nos que o real desejo dele era o de “matar a escola” e todos que lá estavam, transferindo para aquelas pessoas a mágoa de quem foi humilhado, agredido, desrespeitado, excluído e discriminado sob o olhar de testemunhas que nada fizeram para de alguma forma ajudá-lo. Um caso típico de Bullying.
A tragédia causou comoção em todo o país e teve ampla divulgação em noticiários nacionais e internacionais, chamando a atenção para um fenômeno já existente no Brasil, mas nunca antes pensado em tal magnitude. O jornal espanhol El País destacou que o “Rio de Janeiro estava de luto e desconcertado porque crimes desse tipo são desconhecidos na cidade e apenas lidos nos jornais quando acontecem nos Estados Unidos”. Muito embora já tivéssemos conhecimento do Massacre em Columbine, em 20 de abril de 1999, no Colorado, EUA, com um saldo de 13 mortes, do Massacre de Vírginia Tech, EUA, com um saldo de 33 mortos, entre outros, não imaginávamos, nem num mais terrível pesadelo, que ocorresse um caso semelhante entre nós. O brasileiro é otimista e tem por hábito cultural esperar sempre o melhor e achar que “nunca vai acontecer comigo” ou “aqui é diferente”. Mas o fato é que aconteceu… E não podemos chamar de um caso isolado. Segundo pesquisa do IBGE, as estatísticas indicam que:
“Os dados sobre violência mostram que quase um terço dos alunos (30,8%) respondeu ter sofrido bullying. Nos 30 dias anteriores à pesquisa, 12,9% dos estudantes se envolveram em alguma briga com agressão física, chegando a 17,5% entre os meninos e 8,9% entre as meninas, inclusive com o uso de armas brancas (6,1% dos estudantes) ou arma de fogo, declarado por 4% deles”.
No ranking nacional podemos citar as capitais brasileiras campeãs em casos de Bullying:
1º. Brasília (Distrito Federal): 35,6% dos estudantes já sofreram bullying
2º. Belo Horizonte (Minas Gerais): 35,3%
3º. Curitiba (Paraná): 35,2%
4º. Vitória (Espírito Santo): 33,3%
5º. Porto Alegre (Rio Grande do Sul): 32,6%
6º. João Pessoa (Paraíba): 32,2%
7º. São Paulo (São Paulo): 31,6%
8º. Campo Grande (Mato Grosso do Sul): 31,4%
9º. Goiânia (Goiás): 31,2%
10º. Teresina (Piauí) e Rio Branco (Acre): 30,8%
Fonte: IBGE
Diante dos acontecimentos, uma pergunta se faz com urgência de resposta: Por que isso acontece? O que fizemos de errado na educação de nossas crianças?
A partir do olhar atento podemos levantar suposições do que pode ser feito a nível individual, familiar, escolar e da sociedade como um todo, para o enfrentamento do problema Bullying. Temos de questionar a todo o momento o tipo de sociedade que almejamos e a formação que estamos dando aos nossos jovens. O enfrentamento a violência deve ser uma luta constante nas ruas, nos lares e na escola, na conquista de “valores, atitudes e comportamentos que traduzem o respeito à vida, à pessoa humana, à sua dignidade e a todos os direitos do homem”, bem como a “rejeição da violência sob todas as formas e o comprometimento com os princípios de liberdade, justiça, solidariedade e tolerância.” A essência do ser humano é feita de amor e amizade. O Bullying vai de encontro a isso.
O Bullying precisa ser pensado e repensado a partir de nossos contextos sociais e culturais numa busca constante de respostas ao fenômeno. Seus porquês devem gerar um constante debate sobre o tema numa luta que embora sendo de todos nós, deve começar no íntimo de cada educador. Segundo o pensamento de Gabriel Chalita:
“Esse é o grande diferencial da profissão de educador. Seu compromisso não se resume a um conteúdo. Na ação pedagógica, o professor estabelece profundas relações de confiança e respeito com seres humanos e se torna responsável pelo destino de seus alunos”.
Daí a importância de se tomar consciência do conflito que vem se tornando uma epidemia nas escolas e desenvolver um olhar atento, reflexivo e observador, sinalizando caminhos para transformar essa situação.
“Se houver uma árvore para plantar, planta-a tu.
Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu.
Onde houver um esforço que todos evitam, fá-lo tu.
“Sê tu quem tira as pedras do caminho.”
Gabriela Mistral
Fontes: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/pesquisa-do-ibge-aponta-brasilia-como-campea-de-bullying.html
http://www.unesco.org.br/publicacoes/BibliotecaVirtual/index_html
Nenhum comentário:
Postar um comentário