quinta-feira, 11 de julho de 2013
Caso Casey Heynes: o bullying e a omissão da escola
Reportagem publicada pela Revista Nova Escola (acessado em 25.01.2013)
“Uma cena de bullying gravada em vídeo se espalhou rapidamente pela internet e ganhou destaque na imprensa mundial. As imagens, registradas em uma escola australiana, mostram o momento em que Casey Heynes – aluno de 15 anos constantemente agredido pelos colegas – se rebela e parte para cima de um de seus agressores. Com o sucesso na rede, Heynes passou de vítima a herói. Alguns dias depois, os dois garotos eram entrevistados em programas de televisão, apresentando sua versão dos fatos (você pode assistir aos vídeos logo abaixo).
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Agressão nos corredores da escola
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Entrevista com a vítima
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Entrevista com o agressor
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Os vídeos divulgados na internet gerou muita polêmica, mas quase ninguém se perguntou o que houve para a situação chegar a esse ponto. Confira a opinião dos especialistas:
No calor da repercussão e na maneira superficial como o tema foi tratado pelas emissoras, perguntas fundamentais ficaram sem resposta. Qual o papel da escola na história? O que levou o garoto à reação extrema? Há, de fato, algum herói? Para responder a essas e outras dúvidas, NOVA ESCOLA ouviu as pesquisadoras Adriana Ramos e Luciene Tognetta, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As considerações das especialistas têm como objetivo mostrar a professores, gestores e pais quais ensinamentos podem ser tirados do fato e como usá-lo no combate – constante – ao bullying.
O papel da escola
Pelos comentários publicados na internet sobre o vídeo e pela própria maneira como as reportagens foram editadas, percebe-se que quase ninguém questionou o papel de professores e gestores da escola australiana. As especialistas da Unicamp explicam que, por ser um problema que ocorre entre os alunos, o bullying pode mesmo demorar para ser detectado. “Em muitos casos, quando pais e professores ficam sabendo, a criança já sofre há pelo menos dois anos”, comenta Adriana Ramos.
Essa dificuldade, no entanto, não deve ser usada como desculpa para a escola se eximir de responsabilidade. No caso australiano, há fortes indícios de que professores e gestores foram omissos. “Não é possível que ninguém viu o menino passar por tanta humilhação”, comenta Luciene Tognetta. Tudo leva a crer que a escola não tomou as atitudes necessárias nem antes nem depois de o problema aparecer.
A reação da diretoria ao saber da briga reforça essa suspeita. Ao saber do ocorrido, a escola optou por suspender os dois alunos. Com isso, deixou de lado todas as características do bullying e passou a lidar com o problema como se fosse uma briga comum – sem dar importância para as razões que levaram Heynes ao ato de violência. “Ao suspender os dois, a escola não evidencia que, por trás da violência, está o bullying, nem dá a eles a chance de refletir sobre a questão”, diz Adriana.
Como evitar o bullying?
É preciso que a escola tome providências não só para resolver os casos de bullying já diagnosticados, mas principalmente para evitar os novos. A questão deve ser vista como parte de um trabalho contínuo de construção de valores. “Não adianta, por exemplo, falar sobre bullying se os próprios professores ridicularizam ou humilham alunos em classe”, alerta Adriana.
É preciso trazer o tema para o cotidiano da escola e discutir as relações interpessoais. Questionar os estudantes sobre os critérios que adotam para valorizar ou desprezar um colega, por exemplo, é uma boa estratégia. Com isso, é possível levá-los a refletir sobre as consequências de humilhar alguém para ser aceito pelo grupo. Colocações como essas devem fazer parte das conversas com os alunos antes mesmo de o bullying se manifestar.
Além do diálogo dentro da escola, é importante estabelecer um bom canal de comunicação com os pais. Muitos educadores caem no erro de transferir a responsabilidade sobre as atitudes dos estudantes para as famílias, que em geral não têm informação suficiente para lidar com a questão. Nas entrevistas concedidas pelos pais dos garotos australianos, fica clara a sensação de impotência. “Em geral, os pais não sabem o que fazer e é papel da escola mostrar a eles como agir”, defende Luciene. Isso não quer dizer assumir toda a responsabilidade pela Educação das crianças, mas compartilhá-la com as famílias e buscar juntos a solução.
Como lidar com o bullying?
Quando a escola percebe sinais de bullying, há algumas ações importantes que precisam ser tomadas. “A primeira coisa a fazer é entender como o bullying acontece dentro do ambiente escolar”, explica Adriana. Uma ideia é aplicar um questionário anônimo aos alunos com perguntas relacionadas ao tema. Feito esse primeiro levantamento, pode-se criar grupos de estudo com os professores para que eles compreendam o que é o bullying e como lidar com ele.
A terceira etapa do trabalho é o diálogo com os alunos. “Grupos de apoio, filmes, debates, discussões sobre o que caracteriza o bullying e as consequências dele são boas maneiras de abordar o tema com a classe”, defende Adriana. Nesses momentos, vale propor atividades em que os estudantes se coloquem no papel tanto do agressor quanto da vítima e do expectador e mostrem como se sentem.
Como discutir o caso Casey Heynes com os alunos?
A história da escola australiana pode ser usada como ponto de partida para uma discussão em sala de aula. Mas, para tanto, é fundamental fugir do senso comum e levar a turma a refletir sobre como a situação chegou àquele ponto. Geralmente, a tendência das crianças é dizer apenas se o menino está certo ou errado e se concordam ou não com a atitude. Cabe ao professor ampliar a discussão e buscar relações com o dia a dia dos alunos.
Uma sugestão é começar a análise falando sobre a atitude de Heynes. Como em todas as histórias de bullying, a reação do garoto é o resultado de um processo de humilhação que começou anos antes. Em seu depoimento, ele conta que sofria agressões há mais de três anos e explica que todo o medo e a raiva que sentia o levaram a uma explosão de agressividade.
Mais do que pedir que a turma julgue o menino, vale discutir a importância de ele tomar uma atitude. Luciene explica que reagir ao bullying é um passo importante no combate ao problema. “Indignar-se e reagir são ações fundamentais para que o aluno aprenda a lidar com os medos e consiga se impor”, diz ela. Isso não quer dizer, é claro, que a escola deve incitar a violência. Há outras maneiras de o aluno se colocar e dizer não às agressões sem ter que usar a força.
Além de analisar a reação de Heynes, é importante observar as atitudes de Richard Gale – o garoto que aparece nas imagens praticando as agressões -, dos colegas que assistem à cena e dão risada e do garoto que grava (e parece narrar) o vídeo. “O bullying só acontece se a criança que o pratica tem plateia”, explica Adriana. Mesmo sem participar, quem assiste à cena e quem usa os meios digitais para divulgá-la legitima a agressão e dá força para que ela aconteça. “Se a escola quer combater o bullying, precisa fazer um trabalho voltado também para os que assistem”, defende a especialista.
Por fim, é necessário mostrar aos alunos a gravidade do problema e levá-los a pensar sobre as consequências de “brincadeiras” e humilhações que se repetem no dia a dia escola. “Cabe ao professor refletir com os alunos sobre a história não para justificar o que foi feito, mas para fazer com que a turma entenda que o bullying leva a atitudes extremas e precisa ser levado a sério” [1].
Veja matéria completa em:
[ 1] Fonte: Revista Nova Escola (acessado em 25.01.13):
//revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/caso-casey-heynes-bullying-omissao-escola-622917.shtml
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