off-shore
Fonte:
http://www.sindipetronf.org.br/Portals/0/offshore.pdf
TRABALHO OFFSHORE E QUALIDADE DE VIDA
Ver também http://www.abqv.com.br/
TRABALHO OFFSHORE E QUALIDADE DE VIDA:
UMA VISÃO PSICOSSOCIAL
No mês de maio, comemorou-se o Dia do Trabalho. Neste artigo, gostaria de prestar uma homenagem a todos os trabalhadores da indústria do petróleo que são responsáveis direta ou indiretamente pelo desenvolvimento e crescimento da nossa região, do nosso estado e do país.
Mas, também, quero homenagear, especialmente, aos petroleiros off-shore da Bacia de Campos, profissionais qualificados que dispensam anos de suas vidas numa atividade desgastante na qual permanecem muitos dias a bordo de uma plataforma petrolífera.
Questões como adaptação à condição de confinamento, regime de turnos, afastamento do convívio familiar e social, utilização do tempo livre e outras suscitam interesse por parte de profissionais da área de Ciências Humanas e Sociais.
A experiência como psicóloga clínica, há mais de 10 anos, na cidade de Macaé, deixa-me sensibilizada e inquieta com os problemas dos petroleiros. Dificuldades e sintomas apresentados individualmente, pelos filhos e ou pelo casal, revelam diversas causas, tais como:
psicológica, social, econômica e cultural, as quais se inter-relacionam dinamicamente.
A Qualidade de vida no trabalho está bastante relacionada à qualidade de vida geral do trabalhador (Rodrigues, 1994). Sendo assim, percebo que o trabalho realizado em regime de confinamento, como é o do petroleiro offshore, produz efeitos peculiares importantes na vida, na qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famílias.
A família, que é o grupo social mais próximo do trabalhador é aquele que mais sofre com a exigência do trabalho confinado. As mulheres precisam desempenhar papéis de pai e mãe e ter grandes responsabilidades, ficando sobrecarregadas. Os filhos sentem a ausência do pai e muitos apresentam problemas de várias ordens.
Loana Bartolotti (1999), assistente social, no artigo baseado em seu trabalho que relaciona condições de trabalho e vida familiar, mostrou que muitos petroleiros apresentam tensão e irritação no retorno à vida familiar, assim como os filhos pequenos podem revelar sintomas orgânicos e psicológicos, quando do retorno dos pais ao trabalho.
Cooper e Sutherland (1987) descobriram que trabalhadores offshore são menos satisfeitos com seus trabalhos do que os trabalhadores onshore e que pos suem níveis de ansiedade significativamente mais altos. Os dados desta pesquisa mostraram que “relações no trabalho e na família” são fortes indicadores de insatisfação no trabalho e de questões de saúde mental.
Pesquisas nacionais Choueri (1991), Pessanha (1994) e Rodrigues (2001) mostraram que o confinamento é o principal gerador de insatisfação no trabalho, devido ao fato de permanecerem 14 dias, ou mais , longe da família e do convívio social.
Rodrigues (2001), em sua recente pesquisa, concluiu que os fatores mais adversos do trabalho dos petroleiros offshore são:
1-O confinamento em alto mar, traduzido na saudade e preocupação com a saúde e segurança da família;
2- A s solicitações de trabalho em turno, com destaque para a redução da duração e qualidade do sono, quando do turno da noite;
3- O descompasso com a sociedade, expresso pela defasagem com os horários da família e da sociedade;
4- A cúmulo de problemas domésticos e a Tensão P ré-embarque;
5- Exposição a um ambiente de alto risco à segurança e à saúde;
6- A lacuna entre as expectativas criadas e as compensações obtidas, pois os altos esforços dos trabalhadores não são proporcionalmente recompensados na remuneração, prestígio social e realização pessoal.
O fator “ atividade de risco” vem crescendo, causando medo e insegurança a todos os trabalhadores e suas famílias . Um dos últimos acidentes divulgado, recentemente, foi o da P-36 que levou a vida de 11 petroleiros da Petrobrás , deixando as famílias em estado de profundo sofrimento.
Como profissional de saúde, tenho uma preocupação constante com a qualidade de vida dos petroleiros, trabalhadores que geram tanta riqueza e, no final das contas, ficam com tão pouco. Isso não é justo!
O interesse do Homem pelo seu bem-estar e felicidade sempre intrigou pensadores há milênios mas somente, no final do século XX iniciou-se estudos sistemáticos . Diener e Biwas - Diener (2000) colocaram que a importância do Bem-estar subjetivo está crescendo no mundo democrático, porque queremos que as pessoas tenham vidas compensadoras ao avaliarem a si próprias . A partir do momento em que as pessoas encontram suas necessidades básicas atendidas, elas se tornam mais preocupadas com a felicidade e realizações.
Mas, o que é Qualidade de vida? Termo explorado pela mídia, já faz parte do cotidiano das pessoas e, merece considerações teóricas respaldadas em estudos científicos. Embora não haja um consenso a respeito do conceito de Qualidade de vida, três aspectos fundamentais referentes a esse conceito foram obtidos através de um grupo de especialistas de diversas culturas :
1- Aspecto da subjetividade;
2- Aspecto da multidimensionalidade e
3- Aspecto da presença de afetos positivos e negativos segundo a WHOQOL Group, 1994 apud Fleck (1998).
O reconhecimento da multidimensionalidade do conceito qualidade de vida reflete-se nas
seis dimensões englobadas:
Saúde física,
Saúde psicológica,
Nível de independência,
Relações sociais,
Meio ambiente e
Espiritualidade e ou crenças pessoais.
Para Minayo, Harzt e Buss (2000) em um importante artigo sobre Qualidade de vida e
Saúde:
‘ Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximado ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial.
Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade cultural (p. 8 )’.
Os autores vêem o tema Qualidade de vida relacionado à saúde numa perspectiva mais ampla, não apenas considerando saúde como ausência de doença e nem como sinônimo de qualidade de vida, mas se apoiando na compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais.
Concluindo, gostaria de fazer um convite a reflexão à todos os trabalhadores petroleiros, em especial, e aos não petroleiros também, no sentido de avaliarem a “quantas ” anda sua qualidade de vida, considerando as várias dimensões que a englobam como a saúde física,
psicológica, relações sociais, valores e crenças pessoais e, também a questão financeira.
Quero principalmente parabenizar aos trabalhadores offshore que, fazendo um paralelo com os mineiros e garimpeiros dos tempos idos do ciclo do ouro que trabalhavam em condições subumanas , também os petroleiros offshore trabalham em condições difíceis e confinados em alto mar. Estes são, verdadeiros “garimpeiros do mar” na extração e produção do ouro negro – o petróleo- riqueza da nossa época.
Marisa Machado Alves dos Santos – Psicóloga – C R P 05-14374
Mestre em Psicologia Clínica pela PUC de Campinas SP .
Referências Bibliográficas:
Barlolotti, L. R. (1999). Cotidiano e isolamento do homem offshore da Bacia de Campos: um estudo das relações entre condições de trabalho e vida familiar.
Imagem- revista do Sindicato dos Petroleiros no N. F. n. 03, 20-21.
Choueri, N. (1991). Equipes de perfuração marítima: uma análise das relações sociais , das condições de trabalho e da produtividade. T ese de mes trado, Unicamp.
Cooper, C. L., Sutherland, V.J. (1987) Job stress, mental health, and accidents among offshore workers in the oil gas extraction industries. Journal o Occupational Medicine. 29,(2), 119-125.
Diener, E ., & Biwas-Diener, R. (2000). New directions in Subjective Well-being.
Journal of Clinical Research, 31, 103-157.
Fleck, M. P. A. (1998). Projeto desenvolvido para a O M S no Brasil pelo grupo de estudos em Qualidade de vida no Depto. De P s iquiatria e Medic ina Legal FAMED/UFRGS.
Minayo, M. C. S., Hartz, Z. M. A., Buss, P. M. (2000). Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência & Saúde coletiva. 5 (01), 7-31.
Pessanha, R. M. (1994). O trabalho offshore: inovação tecnológica, organização do trabalho e qualificação do operador de produção na Bacia de Campos . Tese de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Rodrigues, Marcus V. C. (1994). Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível
gerencial. Petrópolis : Ed. Vozes .
Rodrigues, Valdo F. (2001). Relações de trabalho em unidades de perfuração marítima- es tudo de caso com ênfase em trabalho em turnos . Tese de mestrado, Universidade de Alfenas-MG,
Alfenas.
Quero destacar aqui a importância deste tema - TRABALHO OFFSHORE E QUALIDADE DE VIDA - já que no atual momento deparamo-nos com uma Gerência de Ativo - UN-RIO/ATP-RO - que demonstra dar pouca, ou nenhuma importância para isto, tendo em vista as decisões tomadas e listadas abaixo:
ResponderExcluir- Encerramento dos contratos para embarque de Educadores Físicos, o que consequentemente não permite a utilização das academias, e limita a prática de esportes durante o período de embarque.
- Redução / Limitação de verbas pra comemoração de datas festivas à bordo das plataformas, limitando mais ainda as opções de laser durante o período de repouso.
Além de outras que poderei citar em outras ocasiões.
Devido ao fato citado acima gostaria de convocar toda a categoria para cobrar junto ao RH que tais medidas sejam revertidas, pois corremos o risco de, ficando calados, que tais medidas e outras mais venham se tornar coum a todos os Ativos. (tenho informação de que novos projetos de Plataformas já estão sendo implementados sem academias, quadras poli esportivas, sauna e piscina)
Excelente materia, é necessario que os RH's e todos os gerentes da PETROBRAS tenham conhecimento.
ResponderExcluirGoetaria de saber quais os beficío adcionais pata quem trabalha OFF Shore, com adicionail e sobte aviso.
ResponderExcluirObrigado
Sergio Queiroz