segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Uso excessivo das tecnologias pode trazer sérios riscos à vida social



Para psicóloga, os eletrônicos 'desconectam' as pessoas do mundo real






Vício internet (Foto: Thinkstock/Getty Images)

Vício em tecnologia pode levar ao isolamento social (Foto: Thinkstock/Getty Images)

Celulares, tablets, computadores e videogames portáteis, enfim, um verdadeiro mundo de equipamentos eletrônicos invadiu, nos últimos 20 anos, a vida cotidiana. Na carona dessesgadgets, como também são conhecidos, surgiram novos termos, expressões e padrões de comportamento. Com a internet, estar online é fazer parte de um mundo virtual no qual a interação é a palavra de ordem. Quando bem dosado, o uso dos eletrônicos não traz riscos à saúde. Porém, quando a dependência dos aparatos tecnológicos já se torna evidente, é preciso ficar atento. Mas quais são os sinais que devemos ficar atentos?

Conforme explica a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), não é só o tempo gasto com os aparelhos eletrônicos que deve ser levado em conta, apesar de ser um fator importante, segundo ela, mas sim em que contextos esses equipamentos são utilizados. “A tecnologia prende a nossa atenção de tal forma que acabamos por ficar desconectados do mundo a nossa volta. Isso, muitas vezes, deve ser levado em consideração mais do que o fator tempo em si”, alerta a especialista.

No caso dos adolescentes, a psicóloga aconselha o período de duas horas por dia para o uso da internet como sendo o mais recomendado. “Apesar de o tempo de duas horas não ser nada para a garotada nessa faixa etária, é preciso lembrar que existem outras tarefas ao longo do dia, como ir à escola, fazer a lição de casa, praticar esportes, entre outras coisas”, lista Dora.

A psicóloga explica que os adolescentes são atraídos pela interação que a tecnologia promove. Além disso, ela conta que é nessa fase que os jovens estão buscando se socializar mais. “Na adolescência, o grupo social passa a ser uma referência muito forte. Como esses jovens não têm autonomia para sair de casa, a tecnologia faz com que eles possam ficar conectados uns com os outros”, ressalta.

Mas a partir de que momento a pessoa pode ser considerada “viciada” em tecnologia? Nesse caso, Dora destaca que isso acontece quando o uso excessivo das tecnologias podem trazer algum tipo de risco à vida social, como ir mal nos estudos; diminuir o rendimento no trabalho, aumentando, assim, as chances de ser mandado embora do emprego; entre outras situações. “Ou seja, é quando a pessoa começa a deixar de fazer coisas da sua vida para ficar com a tecnologia, e isso inclui desde ficar sem ver os amigos até mesmo evitar de sair com o parceiro”, aponta

Com relação aos jogos, Dora explica que muitos deles são desenvolvidos com objetivos curtos, o que, segundo ela, é muito viciante para a população jovem. “A pessoa fica dependente da sensação que tem ao jogar, pois são produzidos neurotransmissores que dão a sensação de bem-estar e euforia. Em oito minutos jogando, por exemplo, o corpo já produz dopamina, a mesma substância do prazer produzida quando comemos chocolate. E isso é viciante. Ou seja, não é a tecnologia, mas sim o que eu sinto quando entro em contato com ela”, detalha.
Dora (Foto: Divulgação)Dora Sampaio, do Grupo de Dependência de
Internet da USP (Foto: Divulgação)

No caso das pessoas viciadas nos eletrônicos, a psicóloga lembra que o uso abusivo da tecnologia atua como uma espécie de anestésico, uma forma de desfocar de questões importantes da vida pessoal, como um conflito em família, problemas na escola, ou no trabalho. “O uso excessivo da tecnologia é uma forma de desconectar de si mesmo e estar conectado às máquinas. Em muitos casos, é realmente como um anestésico, uma espécie de refúgio para não viver as angústias e dificuldades do mundo real”, aponta a especialista.

Além do longo tempo gasto com jogos eletrônicos e internet, Dora chama atenção dos pais para alguns pontos com relação ao comportamento dos filhos. “O tempo é algo concreto e óbvio de ser notado em pessoas que são viciadas nos aparatos tecnológicos. Entretanto, além desse fator, é preciso que os pais notem se o jovem está deixando de sair de casa, ou de ser convidado para as festas. É necessário perceber se o filho não está se isolando do mundo real para ficar interagindo somente com a tecnologia”, alerta.

As consequências da exposição prolongada às parafernalhas eletrônicas podem ser muitas, de físicas a psicológicas. Para se ter uma ideia, mesmo que ainda não comprovada, o contato excessivo com a tecnologia pode provocar depressão, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno bipolar do humor, fobia social, além de déficit de atenção e hiperatividade. “Já as consequências físicas são oriundas da falta de praticar esportes; da alimentação errada, já que muitas vezes a pessoa nem vê o que está comendo, pois fica de olho vidrado na tela; e da higiêne, que fica prejudicada. Pessoas que têm propensão a problemas de vascularização devem ficar atentas também. Ou seja, o mais grave é a pessoa se largar”, ressalta a especialista.


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