domingo, 19 de julho de 2009

Copel estuda viabilidade da produção de biodiesel por pequenos agricultores

Fonte:http://www.paranashop.com.br/colunas/colunas_n.php?op=painel&id=20013

A Copel pretende entregar até o fim de outubro, ao governador Roberto Requião, o resultado dos estudos de viabilidade que vêm desenvolvendo para o projeto de produção de biodiesel. A previsão é do diretor de engenharia da Copel, Luiz Antonio Rossafa, que apresentou durante a Escola de Governo desta terça-feira (24) o andamento do trabalho.

As análises são feitas em conjunto com outras secretarias, institutos de pesquisa e universidades e devem sugerir, ao final, um modelo para a instalação de pequenas e médias usinas de processamento de oleaginosas, que sejam capazes de conjugar eficiência e economia. “A idéia é estruturar arranjos produtivos, que atendam, da melhor maneira, os pequenos produtores agrícolas, aumentando sua renda e gerando riquezas”, resumiu Rossafa.

O governador reforçou à Copel o pedido para que o projeto seja destinado aos pequenos e médios produtores rurais. Para Requião, o grande obstáculo a ser superado por um programa estadual de biodiesel é o da logística de transportes. “Não se quer uma grande unidade industrial de biodiesel, que deixe de lado os co-produtos da prensagem, mas arranjos descentralizados, em menor escala”, destacou.

Não se pretende, de acordo com Requião, que a Copel monopolize a transformação de oleaginosas nem que se dedique à produção de ração ou de adubo. “Queremos que a Copel utilize os recursos que dispõe para investir em tecnologias de novas fontes de energia, desenvolva e implante os projetos de forma descentralizada, com cooperativas e associações de produtores, para não prejudicar a produção de alimentos”.

DESAFIO – Em sua exposição, o diretor de engenharia da Copel observou que a missão atribuída à empresa pelo governador “é um enorme e estimulante desafio, pois as pesquisas com biocombustíveis são uma completa novidade para a estatal”. Segundo Rossafa, os estudos em andamento permitiram concluir que a viabilidade econômica das usinas para produção de biodiesel está fortemente associada à verticalização de todo o processo industrial.

“Uma usina de biodiesel deve dar aproveitamento a todas as possibilidades de produção, pois os co-produtos têm elevado valor econômico”, enfatizou. “Tomando a soja como exemplo, a torta resultante da prensagem dos grãos para obtenção do óleo tem valor comercial mais elevado que o do próprio óleo, e é claro que esse co-produto deve ser aproveitado”.

E o grande desafio sobre o qual se debruçam a Copel e demais entidades que participam do grupo de trabalho é propor um modelo que seja em tudo adequado à economia paranaense. “A missão que nos foi delegada pelo governador Requião é definir um empreendimento integrado, tecnicamente eficiente e de custo acessível, que possa ser adotado em pequena escala sem deixar de ser economicamente viável”, disse.

“Estamos considerando diversas hipóteses para desenhar o programa estadual de biodiesel, e entre as variáveis estão as espécies vegetais mais apropriadas e produtivas”. O diretor ilustrou informando que a soja tem teor de óleo de 18% e o pinhão-manso – outra espécie que está sendo considerada – de aproximadamente 30%.

Participam com a Copel dos estudos para formulação do Programa Estadual de biodiesel a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Tecpar, Iapar, Lactec, Universidade Federal do Paraná e Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Paraná tem condições de suprir 22% da demanda nacional de biocombustível
O governador Roberto Requião quer viabilizar o programa paranaense de biocombustíveis, criado por decreto em 2003, com a entrega de um pacote tecnológico que inclua o pequeno agricultor familiar num projeto de exploração de mini e pequenas usinas para o processamento do biodiesel. Os avanços do programa foram incluídos entre os temas apresentados pelo secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini, pelo presidente do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), José Augusto Pichetti, e pelo pastor Werner Fucks nesta terça-feira (24) na Escola de Governo.

O programa paranaense de bioenergia está avançando em duas frentes: uma é a integração ao programa nacional de biocombustíveis que eleva a alíquota da mistura ao óleo diesel a partir de julho. De outro lado, o Paraná é o maior produtor nacional de óleo com capacidade para produção de mais de 12 milhões de toneladas de oleaginosas entre soja, mamona, girassol, amendoim, canola. “Temos capacidade de suprir acima de 22% da demanda nacional, o que dá uma participação importante para o Paraná”, disse o secretário da Agricultura, Valter Bianchini.

O projeto está sendo impulsionado pelos conhecimentos técnicos da Secretaria da Agricultura e suas vinculadas como Iapar e Emater, e também do Tecpar e Copel. Requião manifestou uma preocupação aos pesquisadores do Iapar, para aprofundar as pesquisas sobre o crambe, uma oleaginosa que entra na preferência de grupos portugueses e espanhóis que querem investir na instalação de usinas no Paraná.

Segundo Requião, o crambe é um ervilhaça de ciclo rápido e a possibilidade de cultivo de mais de uma cultura por ano. “Com o aprofundamento das pesquisas teremos condições de saber se eles sabem de alguma coisa que ainda não dominamos ou se eles estão enganados por falta de conhecimento”, disse.

Outra recomendação do governador ao programa paranaense de bioenergia é a pesquisa com variedades de mamona que permitam a colheita mecânica da planta. Segundo Requião, essa pesquisa já existe no Brasil e pode ser aprofundada. “A colheita mecânica vai viabilizar definitivamente a produção barata de mamona no Brasil que perdeu terreno para os países asiáticos”, destacou.

Entre os avanços do programa, Bianchini citou os resultados do Iapar com o zoneamento agrícola já aprovado pelo Ministério da Agricultura para cultivo do girassol, amendoim e a mamona, além da soja, que sinaliza a tendência de descentralização de uso da matéria-prima. O secretário lembrou que o programa paranaense trabalha com a necessidade da segurança alimentar, mas também uma diversificação da matriz energética.

Segundo Bianchini, o Paraná já conta com a instalação de três usinas para fabricação de biodiesel no município de Rolândia, que produzem juntas um volume de 60 milhões de litros. Ainda este ano deverão ser instalada duas usinas de grande porte, uma em Marialva, e da Petrobrás, no município de Palmeira.

Esses investimentos visam a adequação do Paraná à determinação do governo federal que a partir de julho eleva de 2% para 3% a obrigatoriedade da mistura de biocombustível ao óleo diesel no País. “Nesse sentido, a tecnologia de motores fabricado pelas montadoras também vai avançando”, disse. O secretário anunciou que em sua recente ida à Itália fez uma visita ao Centro da Case New Holland, em Módena, onde presenciou a fabricação de motores adequados para receber 100% de biodiesel que chegam em Curitiba agora em julho.

Esses avanços que estão ocorrendo em todo o País permitiram que o Brasil tenha 45% de sua energia oriunda de fontes renováveis, enquanto na Europa apenas 14% da energia consumida no continente é oriundo de fontes renováveis, comparou Bianchini. “Isso mostra que o Brasil está seguro na diversificação da matriz energética e da segurança alimentar”, observou.

De acordo com o secretário, participação do Paraná pode aumentar ainda mais com o avanço das pesquisas do Iapar com diversas oleaginosas que permitirão aos agricultores paranaenses aproveitar o potencial do Paraná, cujo clima e solo favorecem o cultivo de oleaginosas em três safras anuais: a de verão, safrinha e a de inverno.

ÓLEOS VEGETAIS - O pastor Werner Fucs falou do uso de óleos vegetais em motores de veículos automores. O pastor vem trabalhando com a rede evangélica de assistência social para encontrar alternativas em substituição à cultura do fumo na região Centro-Sul do Paraná. Em parceria com a cooperativa Witmarsum, de Palmeira, e apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para pesquisas com cultivo de oleaginosas que visam a produção de óleo virgem comestível com alto valor agregado para atender a questão da segurança alimentar, assim como o uso do óleo para produção de biocombustivel.

Segundo Fucs, foi instalada uma miniusina na cooperativa que faz extração a frio do óleo, o que beneficia o pequeno produtor porque essa extração só funciona com pequenas prensas que sofre menos atrito. Esse processo, além de ser melhor, não inclui o uso de produtos químicos como solventes durante o processo de extração do óleo. Com isso, o aproveitamento das tortas ganhou competitividade tanto para alimentação humana como animal.

O pastor destacou que tem laudos do Tecpar mostrando que o óleo extraído a quente não é interessante para uso direto no motor. “Por questão técnica e social optamos por extração a frio porque o óleo não oxida e se preserva”, explicou. Com isso, segundo ele, o pequeno agricultor não tem pressa em vender o produto, ao contrário do grão, que pode carunchar.

Além da miniusina de Witmarsun, a equipe do pastor Fucs desenvolveu projetos de construção de outras duas miniusinas que serão instaladas em Pitanga e outra São Paulo, com capacidade para processar 50 ou 100 quilos de oleaginosas por hora. Essas usinas, além da prensa, têm um descascador para o grão e dois sistemas de filtração, ferramentas que permitem agregar mais valor e mais qualidade ao processo. E ainda um equipamento de microfiltragem exclusiva para uso de óleo em motores.

Por fim, o pastor Fucs mostrou imagens de uma caminhonete adquirida pelo Estado, com recursos do Fundo Paraná Tecnologia, que já andou 12 mil quilômetros com diesel e óleo vegetal. O veículo já está rodando 100% com óleo vegetal.

IAPAR - O Iapar conta hoje com 48 pesquisadores, 39 técnicos agrícolas e 25 estagiários atuando no programa paranaense de biodiesel, o que faz do Estado um dos mais avançados na área de bioenergia, disse Pichetti. Segundo ele, entre os resultados mais expressivos obtidos até agora é a aprovação do zoneamento agrícola que estabelece critérios para a regionalização do cultivo de oleaginosas em todo o Estado.

O zoneamento mapeia os espaços onde as culturas potenciais podem ser cultivadas e coloca à disposição dos agricultores outras variedades de oleaginosas que substituem o óleo de soja. Segundo Pichetti, o programa tem um forte viés para atender a Agricultura Familiar como foi mostrado com a utilização do plantio de girassol na região de Irati, que permite a reconversão das lavouras naquela região.

Atualmente, entre os 500 trabalhos a campo desenvolvidos pelo Iapar, cerca de 80 experimentos são voltados à produção de bioenergia, disse Pichetti. São quatro as linhas de pesquisas definidas como prioritárias que estão sendo trabalhadas: definição de espécies para oleaginosas, avaliação de equipamentos de extração de óleo, estudo sócio- econômico sobre a inclusão da Agricultura Familiar na cadeia do biodiesel e a definição de algumas espécies de oleaginosas para adaptação aos diferentes sistemas de produção.

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